BLOG INATIVO DESDE JAN/2010

Pesquisar este blog

domingo, 13 de setembro de 2009

Jovens respondem por metade dos desempregados

A escolha da profissão, a busca pelo primeiro emprego, os dilemas próprios da juventude. O universo que envolve a inserção do jovem no mercado de trabalho é repleto de dificuldades. Prova disso é que, no Ceará, a taxa de desemprego entre pessoas com 18 a 24 anos é de 24%. No Brasil e no mundo, a falta de trabalho entre esse público é três vezes maior do que em adultos. Aqui, essa realidade se complica quando, em tempos de crise, o jovem é o primeiro a sair do emprego e o último a entrar.

Segundo dados do Sistema Nacional de Emprego/Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (Sine/IDT), a taxa de desemprego entre pessoas com 25 a 39 anos é de 10,7% e entre quem tem mais de 40 é ainda menor, de 5,3%. Já conforme a última Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Ceará há 139.970 jovens (15 a 24 anos) desempregados, do total de 285.672 pessoas nessa situação. Dado levantado por estudos revela ainda que metade dos desempregados são jovens.

"Cada vez mais eles estão se lançando mais cedo no mercado de trabalho. O problema é que normalmente essa trajetória é prejudicada porque os postos de trabalho não são os melhores, muitos abandonam a escola, não têm mais tempo para se qualificar devido à dupla jornada, constituem família mais cedo. Já na classe média, a inserção é no mínimo depois que o jovem inicia o ensino superior", compara Erle Mesquita, coordenador de estudos e análise de mercado do Sine/IDT.

Para ele, há ainda outros agravantes. Um deles é a intensa rotatividade de postos de trabalho no público jovem. Em tempos de crise, ele é o primeiro a sair do mercado. Portanto, o mais penalizado. Isso tem conseqüências, como ônus causados para o setor público e para o privado. "Há os custos com seguro desemprego, treinamento, contratação", explica.

Erle Mesquita destaca ainda que há uma mística de que falta emprego para jovens. Contudo, entre 1997 e 2007, dos 7,2 milhões de postos de trabalho gerados no Brasil, 7 milhões foram para quem tem até 24 anos.

"O problema é que essa força de trabalho está sempre rotacionando", justifica. A tendência, na opinião de Mesquita, é que as vagas de trabalho formal sejam preenchidas por jovens, enquanto que as pessoas com mais idade sejam autônomas.

Para Lúcia Maciel, assistente técnica da Agência de Trabalho e Orientação Solidária (Atos), da ONG Conselho de Integração Social (IntegraSol), a realidade é mais dura para jovens de baixa renda, mas ganhou melhorias com a Lei do Aprendiz (10.097/00), que estabelece que toda empresa de médio e grande porte contrate jovens entre 14 e 24 anos por meio de contrato especial de no máximo dois anos de vigência. A cota de aprendizes está fixada entre 5% e 15% por estabelecimento.

Para preparar esse público, o projeto Atos, que atende jovens do Planalto Airton Sena e adjacências, ministra cursos gratuitos e faz a ponte entre o candidato e a empresa. Em 2008, de uma turma de 150 alunos, 180 foram inseridos em empresas. O excedente veio de um banco de dados que a ONG mantém. Da última turma, iniciada em abril com 60 pessoas, 200 foram colocadas no mercado através da Lei do Aprendiz. A próxima turma começa em outubro e está com inscrições abertas.

"O grande diferencial é que priorizamos a formação humana, o tratamento interpessoal, a comunicação e a espiritualidade", enfatiza Lúcia Maciel, acrescentando que a pré-seleção busca pessoas com desenvoltura, competência, necessidade e, acima de tudo, vontade de trabalhar e aprender. "Quando o jovem está sujeito às vulnerabilidades sociais, o curso traz um novo olhar, nova perspectiva".

Dados do Sine/IDT mostram que, de janeiro a julho deste ano, através das instituições, 8.187 jovens foram inseridos no mercado de trabalho, o que representa 17% do total de colocados, que somaram 47.215.

Em agosto, apesar dos números ainda estarem em aberto, devem ter sido incluídas em postos de trabalho mais 1.300 pessoas de 16 a 24 anos, em média, segundo estima Antenor Tenório de Brito Júnior, coordenador estadual de intermediação de profissionais do Sine/IDT e especialista em Mercado de Trabalho pela Universidade Federal do Ceará.

ENQUETE
Qual a maior dificuldade para conseguir emprego?

"Tenho curso de administração, recepcionista, telefonista, mas falta experiência. Quero vaga em atendimento ao cliente"
Nacelina da Rocha de Oliveira
Desempregada
22 ANOS

"Quero trabalhar com eventos. Mas, mesmo estudando em escola profissionalizante, sei que é difícil entrar no mercado"
Ricardo da Silva
Est. de Turismo
17 ANOS

"Meu sonho é ser enfermeira, mas o curso é caro. Tenho dois filhos pequenos. Hoje mesmo recebi folhetos, mas não dá"
Shirley Rodrigues Pinto
Desempregada
24 ANOS

ESCOLAS PROFISSIONALIZANTES
Atenção e rigor na rede pública


Na última quinta-feira, a autônoma Francisca Pereira saiu de casa, no Conjunto Ceará, para ir à escola em que o filho estuda, Jardim América, a fim de saber por que ele precisava faltar aula no dia seguinte. Em reunião com a diretora, o pai do rapaz e o próprio estudante, ficou decidido que João Kléber da Silva Clemente não seria liberado porque a atividade atrapalharia o andamento das aulas. Mais precisamente, nove por dia, de segunda a sexta.

Tanta atenção e rigor são logo relacionados ao ensino particular. Contudo, o cenário era a Escola Estadual de Educação Profissional Paulo VI, umas das 51, no Ceará, que incluem no currículo do ensino médio aulas técnicas em 13 áreas de conhecimento, como comércio, enfermagem e turismo.

Os 12 mil estudantes das unidades no Ceará têm aulas de, por exemplo, Meio Ambiente e Patrimônio Natural, Gestão de Comércio (Economia e Mercados), Empreendedorismo, Ética em Saúde, Enfermagem em Saúde Coletiva e outras disciplinas. Tudo com um objetivo: preparar melhor o jovem para o ingresso no mercado de trabalho.

De acordo com a coordenadora da educação profissional da Secretaria da Educação Básica do Estado (Seduc), Thereza Barreto, as ações seguem eixos de gestão e desenvolvimento comuns. A experiência da escola integral em Pernambuco foi usada como base. Além disso, as unidades têm professores com dedicação exclusiva, gestão empresarial no sentido de apresentar resultados e acompanhamento direto do projeto de vida do aluno. A aplicação e adaptação da metodologia - lá as escolas não são profissionalizantes - são feitas por parceria com o Instituto de Co-Responsabilidade de Educação.

Entre 2008 e 2010, o Estado deve investir R$ 397,7 milhões nessas escolas, sendo que no primeiro ano foram R$ 17,5 milhões e em 2009, R$ 257,5 milhões na construção e adaptação das escolas. Embora o projeto tenha recebido críticas porque foi necessário haver deslocamento de alunos e muitos não quiseram aderir devido ao turno dobrado, quem optou pela profissionalização agora garante estar satisfeito.

Tanto que, até o fim de 2010, a Seduc pretende instalar mais 49 unidades do tipo. Das 51 existentes hoje, 12 são em Fortaleza. Nessa semana, foi assinada ordem de serviço para construção das próximas 20, e há possibilidade de se estabelecer o curso de robótica e tecnologia. "A idéia é que o gestor e o professor sejam de fato educadores trabalhando em torno do projeto de vida do garoto", analisa Thereza Barreto. Para ela, o segundo turno não pode ser preenchido só com lazer, mas com educação de qualidade.

Thereza Barreto acredita que, dessa forma, o estudante se distancia de problemas sociais. "O jovem é o que mais mata e mais morre, é a maior vítima e o maior causador da violência. A faixa dos 15 aos 29 anos é também onde se localiza a maior parte do desemprego. Nas escolas, buscamos garantir a ocupação qualificada no mercado de trabalho", ressalta.

Segundo a diretora da Paulo VI, Corina Bastos Bitu, esse mercado não exige só conhecimento específico e preparação técnica, mas formação baseada no protagonismo juvenil, na co-responsabilidade e na atitude empreendedora. Para João Kléber, de 16 anos, que não pôde faltar aula para ensaiar com a banda, a experiência técnica já lhe mostra o que fazer do futuro. "É cansativo, mas acompanho o ritmo. Mesmo fazendo segurança do trabalho, quero fazer faculdade de Educação Física. Hoje eu tenho um projeto de vida".

FIQUE POR DENTRO
Legislação garante benefícios para estudantes


A Lei do Aprendiz (10.097/00) estabelece que empresas de médio e grande portes contratem jovens entre 14 e 24 anos com contrato especial de trabalho máximo de dois anos. No período, o jovem se qualifica para ocupar os postos de trabalho. Já pela Lei do Estágio, a 11.788/08, o estudante pode permanecer na empresa por até dois anos ou até terminar o curso, podendo ser efetivado se o estabelecimento for privado. Pela Lei do Estágio, o beneficiário tem direito a bolsa, auxílio transporte e recesso remunerado de 30 dias ao final de um ano, com a diferença de não ter o adicional de um terço próprio dos profissionais formalizados na instituição

EM CONFLITO COM A LEI
Projeto tenta acabar com preconceitos

Se conseguir trabalho é difícil sem experiência profissional, pior é para o jovem em conflito com a lei. Para facilitar as chances de esse público entrar no mercado de trabalho, algumas empresas estão firmando parcerias com o Estado.

Através do projeto Criando Oportunidades, da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado (STDS), de janeiro a maio deste ano, 239 pessoas foram qualificadas e 113 educandos conseguiram emprego - além desses jovens, outras pessoas em vulnerabilidade social estão na estatística.

De acordo com a assessora técnica de medidas sócio-educativas da STDS, Ana Bandeira, a dificuldade de conseguir trabalho entre esse público é fruto da própria sociedade, que transformou o adolescente em conflito com a lei em vilão. "Ele é vítima, a partir do momento em que tem seus direitos negados".

Com a Marisol, 70 jovens aprenderam um ofício; com a Metal Mecânica, 13; e com a Pena, cujos cursos estão em fase teórica, serão 20. As aulas acontecem no Espaço Viva Gente ou nos próprios centros educacionais. "Muitos foram contratados. Esse adolescente precisa ser incluído socialmente".

PESQUISA
49% das vagas exigem nível médio

O mercado está cada vez mais exigente, inclusive para jovens. A constatação é referendada por pesquisas do Sine/IDT. Das 8.187 novas vagas ocupadas neste ano entre jovens, 49% estavam relacionadas ao ensino médio completo, 31% ao incompleto e apenas 11% exigiram apenas ensino fundamental.

"Isso significa que 80% das inserções no mercado de jovens são para quem tem ensino médico completo ou incompleto", detalha o coordenador estadual de intermediação de profissionais do IDT, Antenor Tenório de Brito Júnior. No Ceará, a maioria das vagas é na Região Metropolitana, seguida da Norte. Anualmente, o Sine/IDT coloca no mercado 35 mil pessoas, sendo 70% (24 mil) jovens. Para isso, as instituições oferecem oficinas gratuitas de orientação.

Segundo o superintendente de atendimento Norte/Nordeste do Centro de Integração Empresa Escola (Ciee), Marcelo Gallo, há empresas que não consideram mais inglês e informática diferenciais, mas pré-requisitos. "Boa formação cultural é fundamental".

MARTA BRUNO
REPÓRTER
Editora Verdes Mares

Nenhum comentário:

Postar um comentário