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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Notícias das Usinas de Quirinópolis

Bioeletricidade procura ganhar campo

 

Quase esquecido diante das aclamações ao etanol e às descobertas do pré-sal, o bagaço de cana-de-açúcar ainda aguarda real reconhecimento por suas vantagens. E elas são muitas, quando se fala em bioeletricidade. Um estudo da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica) revela que o conjunto das usinas do país poderá produzir na safra 2020/2021 um total de 13.150 megawatts (MW) de potência, o que equivale à produção de uma Itaipu e meia. Para um país onde as hidrelétricas - dependentes do nível das chuvas - representam 73,1% da energia elétrica, a bioeletricidade é apontada como o complemento mais limpo e seguro.

Quando as represas baixam, o governo lança mão das poluidoras térmicas a carvão. "A bioletricidade que as usinas de cana podem gerar em 2021 evitaria as 101 milhões de toneladas de CO2 que as térmicas a carvão vão emitir entre 2009 e 2021", calcula Zilmar José Souza, assessor em bioeletricidade da Unica.

De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o fato de as fontes hídricas serem majoritárias na matriz energética faz com que todo o aparato regulatório, comercial e operacional do sistema elétrico fique em torno das grandes hidrelétricas. Aos poucos, no entanto, as entidades que representam as usinas de açúcar e álcool estão conseguindo inserir a bioeletricidade no contexto do setor.

Ainda falta muito trabalho. O principal é a construção de um ambiente institucional que observe os pontos essenciais, como preço adequado, leilões dedicados exclusivamente à bioeletricidade, separação das funções e custos de geração e conexão e linhas de financiamento para o setor.

"Não há uma política setorial de como fazer a inserção desse potencial no setor elétrico", diz Souza. Segundo ele, "os leilões misturam ofertas de energia suja, como o carvão e térmicas convencionais, além de óleo combustível, nos quais a bioeletricidade não consegue disputar nem demonstrar as excepcionalidades positivas". Ele considera importante estabelecer uma política de leilões dedicados a fontes alternativas, especialmente à bioeletricidade, que completa a fonte hídrica nos períodos secos e tem a capacidade de regularizar os estoques, além de evitar emissões. Segundo seus dados, a bioeletricidade representa 3% a 4% da matriz elétrica e tem potencial de chegar em 2021 respondendo por algo em torno de 15% da energia elétrica do país.

Outra queixa do setor é o custo das redes de transmissão. A usina que se propõe a vender parte da energia que produz deve arcar com as linhas de transmissão, o que encarece em pelo menos 30% o preço da energia. "Mesmo o Estado de São Paulo, com o maior potencial em termos de exportação de energia elétrica por meio da biomassa, tem um gargalo forte pela questão da conexão, apesar de ser altamente malhado em termos de conexões e ramais", diz Souza. Ele defende que esses custos sejam considerados nos leilões.

No último leilão, apenas um projeto de biomassa foi agregado e obteve preço abaixo de R$ 150,00 por MW, que não condiz com o investimento. Segundo especialistas do setor, a exploração da bioeletricidade depende basicamente da disponibilidade de um sistema de transmissão suficientemente robusto de modo a permitir o escoamento dessa energia.

O Grupo Usina São João (USJ), de Araras, no interior de São Paulo, tem 30 megawatts para exportar para o sistema elétrico, mas aguarda a conclusão de uma linha de transmissão. "O problema são as linhas, porque as usinas estão sendo montadas em novas fronteiras agrícolas e ainda não existem redes de recepção dessas energias", diz José Ieda Neto, gerente executivo industrial do grupo.

A Usina Cachoeira Dourada, em Goiás, é mais nova do grupo e seu projeto incorporou a produção de energia de bagaço como um dos pilares. Dos R$ 230 milhões investidos na usina, R$ 70 milhões foram para a produção de energia. Segundo Ieda Neto, a primeira fase que entra em operação em maio de 2011 tem capacidade para gerar 40 MW/hora e poderá exportar 30 desse total. De acordo com seus números, as três usinas do grupo exportaram 112 megawatts no ano passado, estão exportando 112 MW neste ano, em 2010 atingirão 135 MW, passando para 260 MW em 2011.

João Carvalho do Val, diretor financeiro e de relações com investidores do Grupo São Martinho, diz que na safra atual deve "exportar cerca de 30 megawatts" de suas três usinas, mesmo patamar da safra passada. "Dentro de dois anos, quando a Usina Boa Vista completar sua expansão, passaremos a exportar 50 megawatts", afirma.

A receita com venda de energia elétrica atingiu R$ 5,4 milhões no primeiro trimestre de 2009, um acréscimo de 324,1% em relação aos primeiros três meses do ano passado. A São Martinho é uma das maiores produtoras de açúcar e álcool do Brasil. A capacidade de moagem do Grupo atualmente é de 13,2 milhões de toneladas por ano. A companhia produz açúcar, álcool e energia elétrica em três usinas, Unidades Iracema e São Martinho, em SP, e Unidade Boa Vista, em GO. Segundo Val, a energia elétrica representa 5% da receita, mas não tem custo nenhum. "É um negócio interessante para a empresa. Em uma usina nova a energia elétrica responde por 10% dos negócios", diz.

Outro fator que conta na produção da bioeletricidade na redução de CO2 é o aproveitamento da palha da cana que em muitas regiões ainda é queimada, especialmente onde a colheita é feita manualmente. Segundo estudos da Unica e da Associação da Indústria de Cogeração de Energia, o aproveitamento de 70% da palha para produção de energia agregaria ao sistema elétrico 6.757 MW médios.
Fonte:Valor Econômico.

 

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